quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Neurociência - O cérebro e seus segredos


Neurociência

Desvendando os segredos do cérebro

José Renato Salatiel*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Reprodução

Vista de um crânio (cerca de 1489) por Leonardo da Vinci

Dentre as ciências contemporâneas, talvez somente a biologia genética se compare à neurociência em termos de revolução no cotidiano do homem. Com pouco mais de 100 anos de pesquisas, a neurociência, que estuda o sistema nervoso e o cérebro, derrubou vários mitos sobre a mente humana. Mas ainda não tem respostas para mistérios como a consciência. (Direto ao ponto: Ficha-resumo

Para levar ao grande público um pouco destas recentes descobertas, São Paulo recebe até dia 25 de outubro de 2009 a mostra Cérebro: O mundo dentro da sua cabeça, no Pavilhão da Bienal no Parque do Ibirapuera. 

Nada mais justo para aquele que, pesando em média um quilo e meio, é o mais complexo e nobre dos órgãos humanos. Graças ao cérebro, percebemos o mundo, nos movimentamos, lembramos das coisas, sentimos emoções e lemos este artigo. 

Tudo isso é possível porque essa massa gelatinosa opera numa rede com mais de 100 bilhões de células, chamadas neurônios. Os neurônios, por sua vez, se comunicam entre si por meio das sinapses e de substâncias químicas - os neurotransmissores. 

Ganhando neurônios

Até o final do século 20, acreditava-se que o cérebro adulto era um computador que não podia ser atualizado. Diferente de outros órgãos humanos - como a pele, que se renova constantemente -, supunha-se que o cérebro manteria as mesmas células desde o nascimento. 

Hoje sabemos que não é bem assim. Ganhamos e perdemos neurônios ao longo de nossas vidas. E porque o cérebro possui a capacidade de gerar novos neurônios, ele pode autorreparar danos provocados por acidentes ou doenças. 

Isso é importante para os cientistas desenvolverem tratamentos mais eficazes contra doenças degenerativas. Boa parte da medicina hoje atua como no filmeTempo de Despertar, em que pacientes com mal de Parkinson são tratamos com uma droga experimental, a L-Dopa. 

O mal de Parkinson ataca os neurônios que produzem um tipo de neurotransmissor chamado dopamina, deixando os doentes com dificuldades para andar e falar. A L-Dopa alivia temporariamente os sintomas, mas não cura. 

Pesquisas recentes caminham em duas direções: estimular a produção de neurônios na região afetada ou cultivar células-tronco in vitro, para serem reimplantadas no cérebro e substituírem neurônios danificados. O uso de implantes, chamados neuropóteses, também poderá, no futuro, beneficiar deficientes físicos. 

Explicando a violência

Outro importante avanço da neurociência foi o mapeamento do cérebro em áreas específicas, responsáveis por diferentes funções. Já foram identificadas 47 áreas corticais onde se processam a memória, as emoções, os movimentos, a linguagem, a fome, o sono e o prazer, entre outras atividades. 

O conhecimento destas regiões específicas contribui para explicar os hábitos consumistas, os vícios, o gosto por tipos diversos de músicas, a diferenças entre homens e mulheres, dificuldades de aprendizagem, a fé religiosa, o porquê esquecemos coisas no dia a dia etc. 

Vejamos, por exemplo, o comportamento agressivo. Estudos recentes identificaram que homens que cometem assassinatos por impulso apresentam alterações fisiológicas no sistema límbico, onde nascem as emoções, e no córtex pré-frontal, a parte racional que controla essas emoções. 

O comportamento violento seria, portanto, fruto da incapacidade neuronal de controlar impulsos, provocada por uma doença ou acidente na infância? Não, é apenas um fator de risco. Família e meio social são outros componentes que suscitam a violência. 

O cérebro de Einstein

Quando Albert Einstein morreu em 1955, seu cérebro foi preservado para estudos. Os cientistas queriam saber se a mente de um dos maiores gênios da humanidade era diferente das pessoas comuns. Os resultados das análises revelaram pequenas diferenças na anatomia, em especial em áreas que respondem pelo raciocínio matemático. 

A inteligência seria, deste modo, um fator genético? Em parte sim, herdamos certas habilidades do patrimônio genético de nossos antepassados. Mas os estímulos que recebemos na escola e em família contam bastante para desenvolver a inteligência. 

Mesmo assim, ainda é cedo para dizer que as novas gerações, superestimuladas por informações nos meios de comunicação, internet e games, serão adultos mais espertos que nossos pais. Será preciso observar o tempo entre uma geração e outra, em média 20 anos, para se chegar a alguma conclusão. 

O mito dos 10%É comum ouvirmos a história de usamos apenas 10% de nossas capacidades mentais. Muitos livros de autoajuda foram escritos com o objetivo de "despertar" os poderes ocultos da mente naquela parcela do córtex cerebral inativa. 

Este mito tem origem, ao que parece, numa leitura equivocada do filósofo e psicólogo norteamericano William James (1842-1910), que afirmou que o raciocínio lógico tem emprego limitado em boa parte de situações da vida humana. O que ele queria dizer, na verdade, é que agimos muito por instinto. 

As técnicas mais modernas de mapeamento cerebral comprovam que os instintos e as emoções desempenham papéis fundamentais, tanto quanto a razão, nas decisões que adotamos no cotidiano. 

Inteligência é a capacidade que temos de usar informações para solucionar problemas práticos, que envolvem tanto a razão quanto os instintos e os sentimentos. Por isso o famoso teste de Q.I., baseado em decisões lógicas, é insuficiente para dizer se uma pessoa é mais ou menos inteligente. 

Dois cérebros?

O córtex cerebral é dividido em dois hemisférios que desempenham funções distintas. O lado esquerdo é racional, concentra a linguagem e o pensamento lógico, enquanto o direito, especializado em reconhecimento espacial e visual, é intuitivo. 

Daí surgiram técnicas que prometem ativar o lado mais criativo, relegado a segundo plano pelos ocidentais. 

Ocorre que os hemisférios são unidos por um feixe de fibras chamado corpo caloso, que os mantém em constante interação. Por essa razão, em atividades diárias, ambos os lados estão em mútua atividade, como quando ouvimos uma música ao mesmo tempo em que lemos a letra. 

Máquinas pensantes

Talvez o fato mais curioso é o de sermos o único animal que usa o cérebro para compreender o próprio cérebro, isto é, somos conscientes de nossa própria consciência. Não obstante todo conhecimento acumulado sobre a anatomia cerebral, ainda não se sabe como a mente consciente surge de processos neurológicos. 

Uma metáfora recorrente compara o cérebro humano com o computador: a mente seria o programa (software) e o cérebro, a parte física (hardware). Mas é uma visão simplista, que não explica muita coisa e despreza o fato da consciência envolver muito mais que lidar com símbolos e linguagem. 

A hipótese que evita esse dualismo diz que a consciência é uma propriedade emergente do cérebro. Quer dizer, é uma característica que surge da interação de todas as funções neuronais, mas que não se reduz a nenhuma delas especificamente. 

Isso abre o debate para questões como a da inteligência artificial: máquinas mais complexas poderão, um dia, tornarem-se conscientes? 

Direto ao ponto volta ao topo
Neurociência é o estudo do sistema nervoso e do cérebro. Em pouco mais de 100 anos, acumulou conhecimentos que vem auxiliando no tratamento de doenças e no entendimento de comportamentos humanos, como hábitos de consumo e violência.

Mitos derrubados pela neurociência 
 O cérebro adulto é incapaz de produzir novos neurônios.
 Inteligência é somente questão de genética ou cultura. 
 O teste de Q.I. mede a inteligência. 
 Usamos apenas 10% de nosso cérebro. 
 O lado esquerdo do cérebro domina o homem.
 A consciência é o software do cérebro.

Pesquisas sobre o cérebro também têm reflexos na medicina. No futuro, o reimplante de células-troco e o uso de neuropróteses poderão beneficiar pessoas que sofrem de doenças degenerativas e deficientes físicos.

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